No último mês, escrevi sobre como o ERP, tal como conhecemos, está morrendo. O tema gerou repercussão, e não é para menos: poucas tecnologias impactaram tanto as empresas nas últimas três décadas quanto os sistemas de gestão integrados. Mas, se o ERP monolítico está em declínio, surge uma pergunta inevitável: o que vem depois?
O futuro do ERP aponta para uma transição definitiva: os sistemas monolíticos cedem espaço a uma malha inteligente de agentes autônomos, orquestrados em tempo real. Nesse novo modelo, o ERP torna-se praticamente invisível: descentralizado, nativo de IA e capaz de se autoconfigurar, otimizar e recuperar de falhas. Em vez de processos rígidos, surgem fluxos hiperpersonalizados por indústria e por usuário, com dados circulando em múltiplas plataformas e decisões tomadas por agentes contextuais. A partir disso, governança e segurança ganham protagonismo, enquanto conceitos como Composable ERP e plataformas de orquestração viabilizam inovação contínua sem disrupção, preparando as empresas para um futuro digital mais ágil e resiliente.
De sistema central a fonte de dados
Para o mercado, o ERP continuará existindo, mas não mais como o protagonista. Ele passará a ser uma fonte de dados em uma arquitetura mais aberta, modular e conectada. Essa mudança já está em andamento: segundo o Gartner, até 2028, um terço de todos os softwares corporativos incluirá agentes de IA embarcados, reduzindo o papel das interfaces tradicionais. Isso significa que a experiência do usuário deixará de estar no ERP e passará a camadas inteligentes de orquestração.
Em termos práticos, funções como finanças, RH e cadeia de suprimentos continuarão registradas no ERP. Mas a interação principal ocorrerá em plataformas que integram dados de múltiplas fontes e respondem com agilidade às necessidades do negócio.
Esse novo paradigma é definido pelos agentes de IA, softwares capazes de entender contexto, interpretar intenções e agir de forma autônoma. Diferente da automação tradicional, que apenas executa regras fixas, os agentes aprendem, se adaptam e até antecipam necessidades do negócio.
Isso muda a forma como interagimos com a tecnologia corporativa. Em vez de navegar por telas e menus, o usuário pode simplesmente “conversar” com um agente, pedindo uma análise de risco ou a projeção de estoque, e receber uma resposta imediata, construída a partir de múltiplos sistemas – ERP incluído.
Governança e segurança: o novo campo de batalha
Mas se os agentes oferecem essa flexibilidade sem precedentes, também trazem riscos novos. Como garantir que decisões automatizadas estejam alinhadas à governança corporativa, à LGPD e às regulações fiscais? Como auditar uma recomendação de IA que não segue uma regra explícita, mas uma inferência contextual?
O Gartner já alerta: a governança será o maior desafio da Era Agêntica. Empresas precisarão investir em arquiteturas “governance by design”, onde cada agente é monitorado, auditado e limitado por políticas claras. Mais do que nunca, governança e inovação caminharão juntas.
Da teoria à prática: inovação sem disrupção
A boa notícia é que essa transição não precisa ser disruptiva. Já existem exemplos no mercado de empresas que automatizaram a maior parte de seus processos repetitivos mantendo ERPs legados, graças à combinação de IA e plataformas de orquestração. É uma prova de que é possível inovar sem embarcar em migrações bilionárias, liberando orçamento para iniciativas de maior impacto.
Esse modelo é particularmente atraente para companhias brasileiras que lidam com margens apertadas e dificuldade para encontrar talentos. Ao substituir o suporte tradicional por modelos independentes, reduzir custos operacionais e reinvestir em inovação, elas conseguem ganhar competitividade mesmo em ambientes de incerteza.
Do ERP morto ao agente vivo
O ERP tradicional pode estar morrendo, mas isso não significa o fim da gestão integrada. Significa apenas que sua forma muda: de centro monolítico para uma rede inteligente, onde agentes de IA são o verdadeiro sistema operacional das empresas.
Essa é a fase em que estamos agora. Uma fase que exige coragem para abandonar modelos ultrapassados, clareza para desenhar arquiteturas governáveis e disciplina para extrair o máximo dos sistemas já existentes.
O futuro da gestão corporativa não será escrito por telas e cliques, mas por agentes inteligentes, conversas naturais e decisões contextuais. O ERP está, sim, morrendo, mas do seu fim nasce algo maior: a era do agente vivo, adaptável e preparado para o ritmo dos negócios digitais do futuro.
