Com ERP, Missão Crítica e Estratégia São Coisas Distintas

Luiz Mariotto
GVP, Global Pre-Sales
5 min. de leitura

Um ERP robusto e confiável é fundamental para que empresas de médio e grande porte, de todos os setores, tenham uma visão unificada e segura dos dados para a gestão e para as operações diárias da companhia — especialmente no que diz respeito à execução de tarefas de missão crítica.

No mundo dos negócios de hoje, com a evolução tecnológica e a crescente demanda por flexibilidade e eficiência, o debate sobre a coexistência entre sistemas on-premises (instalados localmente) e em nuvem ganha cada vez mais relevância entre executivos do C-level e conselhos administrativos. Compreender profundamente essas abordagens é essencial para obter eficiência operacional e entregar verdadeira inovação e valor às organizações que buscam melhores margens brutas.

A verdade é que nem todas as empresas operam da mesma forma. As necessidades de uma empresa podem não ser as mesmas de milhares de outras. Isso é importante de considerar ao pensar na integração de sistemas e aplicações ou na migração para uma nova solução em nuvem — especialmente quando falamos de um software corporativo com a complexidade de um ERP.

Durante muito tempo, sistemas on-premises foram a solução padrão adotada pelas empresas, mas, à medida que as questões relacionadas à segurança na nuvem evoluíram, muitas passaram a adotar o modelo de IaaS (Infraestrutura como Serviço), levando seus sistemas legados para nuvens como Microsoft Azure, Google Cloud e AWS.

Sistemas de missão crítica, como os ERPs, têm propósitos completamente diferentes de sistemas estratégicos ou aplicações de inovação voltadas à experiência do usuário. Por isso, objetivos distintos requerem modelos de uso distintos — e é por esse motivo que é essencial que as empresas tenham business cases claros em relação aos sistemas que devem estar na nuvem e em modelo SaaS, em contraposição àqueles que devem permanecer em infraestrutura on-premises e com licença perpétua.

Mudança de estratégia da SAP

O mercado foi surpreendido quando a SAP anunciou, em 2023, que suas inovações mais recentes seriam entregues apenas na nuvem pública ou na nuvem privada oferecida pelas iniciativas GROW with SAP ou RISE with SAP. Essa decisão estratégica, segundo o próprio fornecedor de software, envolve inovação com IA e sustentabilidade, áreas em que a empresa está investindo.

Na prática, o fornecedor demonstrou algo que muitos clientes já temiam há tempos: a SAP parece mais do que disposta a deixar empresas para trás caso não convertam suas licenças de software para assinaturas em nuvem. A decisão da SAP aparentemente coloca como prioridade máxima a sua própria rentabilidade.

Esse cenário tem sido o foco da estratégia de migração para a nuvem da SAP, o que pode dificultar o futuro de clientes que ainda utilizam soluções on-premises. Apesar dos obstáculos, muitas empresas preferem manter seus sistemas estáveis e inovar de forma independente, optando por alternativas como o suporte de terceiros, que permitem à empresa manter os sistemas existentes e maximizar o investimento já realizado.

Por um lado, ninguém quer perder a oportunidade de contar com a melhor tecnologia disponível para sua empresa. Afinal, é preciso se adaptar constantemente a um ambiente de negócios dinâmico e competitivo.
Por outro lado, as empresas não querem abrir mão de sistemas já customizados e dos grandes investimentos feitos ao longo dos anos.

De acordo com dados da Basis Technologies, apenas 57% das empresas que utilizam soluções on-premises da SAP estão em processo de migração para o sistema em nuvem S/4HANA antes do fim do suporte padrão em 2027. E, apesar desse prazo, até 2024 cerca de 73% da base de clientes da SAP ainda não havia iniciado sua migração para o sistema em nuvem.

Segundo o relatório de investimentos da DSAG 2024, 61% dos membros da associação entrevistados na Europa não têm a intenção de migrar para o serviço em nuvem. Além disso, os respondentes se mostraram críticos à estratégia de migração da SAP e desejam garantir que empresas on-premises continuem tendo acesso às inovações estratégicas da SAP. Em resumo, muitos clientes da SAP ainda não veem business cases claros para realizar esse tipo de migração.

O que fazer com customizações e investimentos significativos já realizados

A adoção de um novo ERP em nuvem não acontece da noite para o dia. Não é incomum que a migração leve dois ou três anos, sendo realizada de forma gradual e estratégica — e, muitas vezes, adotando um modelo híbrido, no qual soluções on-premises e em nuvem coexistem na mesma organização. No modelo IaaS ou PaaS (Plataforma como Serviço), é possível combinar as vantagens da infraestrutura ou mesmo de aplicações em nuvem com outros sistemas ainda instalados localmente e altamente customizados.

É importante destacar também que migrar um sistema on-premises para a nuvem pode resultar na perda de algumas customizações ativas, especialmente se forem muito específicas e profundamente integradas ao código base do sistema. Isso pode ocorrer devido à abordagem Clean Core da SAP, que busca manter o núcleo do sistema o mais limpo e padronizado possível — ou seja, com o mínimo de customizações e alterações de código, utilizando as funcionalidades e configurações oferecidas pela própria plataforma.

Por isso, é essencial fazer uma análise detalhada antes de considerar a migração, para avaliar quais customizações fazem parte de um legado valioso e consistente, e como podem ser implementadas no novo ambiente, mitigando o risco de perda de dados e interrupção de serviços.

As vantagens de uma estratégia híbrida e da inovação nas bordas

A nuvem é uma realidade de mercado que veio para ficar — isso é inegável. Mas quando se trata de migrar para esse modelo, é preciso estar atento à pressão dos fornecedores de software e aos prazos definidos por eles para o fim do suporte às versões antigas de seus produtos. Existem alternativas e, nesses casos, cabe a cada organização conhecer e compreender as opções de mercado mais adequadas à sua estratégia e ao seu roadmap de negócios.

A chamada inovação nas bordas — ou composable ERP — se refere justamente à alocação do orçamento de TI em tecnologias de rápida implementação e com potencial de gerar ROI relevante e significativo. Dessa forma, líderes de TI conseguem atender às necessidades de inovação com soluções tecnológicas que oferecem benefícios reais e sustentáveis para as empresas.

Se você tem um ERP on-premises e ele atende às necessidades da sua organização hoje, ótimo.

Se a sua organização tem o orçamento necessário e deseja realizar a migração para a nuvem, também é ótimo.

A estratégia principal é entender que as empresas podem ter outras prioridades além de adotar uma nova versão de sistemas que já são operacionais e eficientes. O foco deve ser pensar estrategicamente sobre o que sua organização realmente precisa — seja com sistemas on-premises, em nuvem ou híbridos.
No fim das contas, a decisão deve ser tomada com base no que é melhor para a sua empresa, no prazo que você tem.

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